Uma vez por semana, 45 minutos, 25 a 30 alunos, pouco tempo, muita gente e eu preocupada com a minha sequência didática aprendida na universidade, o sistema educacional, a burocracia , o prazo, a demanda, a correria.
Foram nesses 45 minutos de uma vez por semana que Laura*, de apenas 6 anos vem até mim e diz:
- Professora, sabia que eu não tenho pai?
A professora, toda preocupada em seus 45 minutos semanais precisa pensar tão rápido quanto a duração de sua aula:
- Ah é, Laura? Diante de tal desabafo, também quis lhe confidenciar algo:
- Sabia que eu não tenho mais pai também ?
A garota lança um olhar de surpresa diante do meu relato.
- E, de quem você gosta? Pergunto eu à menina.
- Eu gosto da minha mãe, do meu irmão e da minha tia.
- E eles cuidam de você? Ela diz sim com a cabeça ,ao mesmo tempo que dá um sorrisinho sem mostrar os dentes.
E Laura volta para sua mesa e continua a atividade junto com os demais colegas. Pouco antes do término dos 45 minutos semanais, a menina mais uma vez vem até mim e pergunta:
- Professora, o meu cabelo “tá” bonito?
Seu cabelo nos ombros, com uma parte amarrada e outra solta, digo:
- Está lindo, adorei o penteado!
Mais um sorrisinho ela deu.
E assim, dentro desses poucos 45 minutos que eu estava preocupada, nos confidenciamos. Laura com seus 6 anos e eu, aos 36 . Falamos de faltas. Falamos de perdas. Ninguém quis saber como se deram as faltas e as perdas.
Não importava como se deram.
Eram faltas.
Eram perdas.
Apenas escutamos umas às outras.
O adulto.
A criança.
* Laura- nome fictício.
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